segunda-feira, 16 de março de 2009

“Sombras”

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Amigos, entre o último texto e agora, muitas tarefas tribais me chamaram. A tribo familiar, a tribo grupal, enfim, várias tribos a que pertenço. Entre consultas, e a organizar outras tarefas, o pouco tempo que me sobrou (e sobra) tenho que o dedicar “á nobre arte de não fazer nada” a não SER EU MESMA.
Continuo a querer dar a minha visão pessoal à tribo dos bloguistas deste país. Pois aqui vai:
- Um destes dias uma paciente (PAC) que entra indignada e ao mesmo tempo, a sentir-se impotente para fazer alguma coisa. Eu (PSI), depois de a convidar a acomodar-se, pergunto:

PSI: Em que posso ajudar?
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PAC: Já não sei, o que pensar, o que fazer, já não sei quem sou: só consigo ver desgraça, violência e medo. É muito inseguro sair á rua. Meto-me num cantinho e estou a deprimir.
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PSI: E o que vê exactamente nessa desgraça, nessa violência que me está a reflectir?
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PAC: Como assim, o que vejo?
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PSI: O que sente quando vê?


PAC: Sinto raiva, desprezo por esta gente, vontade de fazer explodir tudo…
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PSI: Exactamente, o que “essa gente” sente, já reparou? É assim que começa a violência: quem tem raiva, parte para a explosão interior ou exterior, nos outros. Você está a ver neles o que tem em si, que não quer admitir, olha-se ao espelho sem perceber.
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PAC: Eu? Então eu que quero paz e harmonia, você diz-me que eu é que tenho violência e raiva?
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PSI: Foi a Srª que disse, eu não invento nada. A Srª está a ser invadida pela sua própria sombra e como quer manter uma auto-imagem de “Paz e Amor” nem se apercebe que aquilo que vê nos outros está em si, se estivesse com compaixão apenas observaria o que se passa à sua volta e nada teria impacto desgastante, como tem. É tudo uma questão de espelhos.
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PAC: Ora essa, nunca tinha visto por esse prisma…
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PSI: Pois, nunca ninguém quer ver as suas sombras, e muito menos a sua própria luz, porque ninguém pode ter veleidade de chegar á luz sem passar pela própria escuridão. Quem diz o contrário, mente, não porque queira, mas por ignorância ou medo de se ver por dentro.
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PAC: Então, e agora, o que faço com isto? O que faço com estas sombras, que , como diz estão dentro de mim?
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PSI: Há várias maneiras de se lidar com elas, dependendo do seu grau de entendimento e empenho, mas posso dizer-lhe já, O QUE NÃO FAZER COM ELAS : Querer ver-se livre delas, empurrá-las para os outros ou odiá-las. Tente percebê-las como partes de si que precisam de ser entendidas e ouvidas. Só assim elas se tornarão suas aliadas, em vez de inimigas.


PAC: E quando estiver por exemplo a ver tv ou a ouvir conversas?


PSI: Observe o que sente, e diga para esses sentimentos que você não os despreza nem odeia, mas que os quer entender. Estará a caminhar para a compaixão e não para a impotência que sente.

Depois disto fizemos um exercício demonstrativo.
A própria impotência que sentia, diluiu-se e transformou-se em empenho e mudanças. Por dentro, claro, que por fora só se verão quando a perspectiva mudar de facto.
Trabalhar com as nossas sombras é o caminho para atingirmos a nossa luz. O mundo está cheio da nossa própria escuridão.


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